A investigação arqueológica da Pré história recente (VIII-I mil. BC) reconhece, a diversas escalas e em diferentes periodos, multiplos traços de unidade em termos culturais no interior norte da Península Ibérica, onde se inclui o interior norte e centro de Portugal. Porém, a tradição da investigação, em ambos os países - Portugal e Espanha - tem-se acomodado às fronteiras político-administrativas, categorizando os dados materiais e criando narrativas apartadas entre si, o que restringe as perspectivas interpretativas no estudo da Pré história holocénica. Tais narrativas, na medida em que moldam estruturalmente os modos de pensar e de conceptualizar o Passado, têm criado categorias discursivas que urge questionar e repensar. Nesse sentido, o grupo de investigação “Território e Paisagem” do CITCEM, cuja investigação em Pré-história recente se desenvolve no interior norte e centro de Portugal, tomou como um dos seus objectivos cimeiros a realização deste Colóquio internacional por forma a encetar um programa de diálogo e a desenvolver sinergias na investigação que, rompendo fronteiras políticas, contribua para a integração desta região no amplo espaço do interior peninsular. Este diálogo não resolverá, por si só, todas as questões decorrentes da tradicional separação que desde há mais de um século aparta conceptualmente os territórios do interior peninsular, mas assume-se como uma plataforma de gestação de narrativas que sejam mais profícuas à investigação actual.
O interior norte e centro português – correspondente, grosso modo, à região de Trás-os-Montes e à Beira Transmontana – tem revelado, no que concerne aos aspectos culturais, afinidades múltiplas, mas sobretudo meridionais, de cariz mediterrânico, mas também atlânticas, com ligações ao norte europeu. Contudo, esta bipolarização nas grandes redes de relações e intercâmbios poderá ser redutora para caracterizar as realidades arqueológicas destes territórios. A matriz cultural destas comunidades partilha com as regiões interiores da Península – a Meseta – traços estilísticos e comportamentais há muito identificados, mas não devidamente aprofundados do ponto de vista da investigação. Importa, assim, tratar este espaço de forma particular, atendendo tanto às suas especificidades ao nível dos contextos e materialidades, como às singularidades que, no território português, acabam por se diluir em narrativas que assentam tradicionalmente e de forma dominante na comparação entre o norte e o sul do país.
Com a realização do colóquio “Romper fronteiras, atravessar territórios”, pretende-se, em síntese, promover renovadas leituras do registo arqueológico, procurando articulações que ampliem as possibilidades de análise para melhor caracterizar a região do ponto de vista paleoecológico e cronológico-cultural, identificando espaços de interculturalidade. Neste âmbito, procuram-se igualmente compreender os processos de gestão identitária e de reconfiguração das estratégias económicas e sociais que marcaram profundamente, e em diferentes cronologias, a Pré-história recente peninsular, como forma de aceder ao quadro ideológico-cultural das comunidades deste período. A realização deste colóquio assume um papel determinante na promoção do diálogo e da reflexão comum, aprofundando a cooperação com investigadores e instituições internacionais, à qual se pretende dar continuidade, mormente através da criação de redes de investigação partilhadas.